Fernando Pessoa 2.0: novas ferramentas para velhos problemas

02 Pubblicazione su volume
Celani Simone

O Espólio Pessoa representa um exemplo extremo no âmbito da filologia, devido em particular à sua estrutura, muito ampla e complexa, mas que conserva poucos elementos da ordenação original deixada pelo autor. Na materialidade dos documentos originais estão presentes, porém, numerosos indícios que permitem reconstruir diferentes graus de proximidade genética entre as peças, dados fundamentais para editar criticamente as obras de Fernando Pessoa. Contudo, são inúmeros os elementos a ter em consideração, e conseguir uma visão global utilizando apenas os métodos tradicionais exigiria uma análise demasiado demorada. Na Universidade de Roma La Sapienza teve início um novo projeto experimental que visa examinar um amplo número de variáveis de uma forma automática, utilizando um algoritmo que desfruta as potencialidades dos Sistemas Artificiais Adaptativos (AAS, Artificial Adaptive Systems) e fornece um mapa gráfico das ligações entre elas (formalmente um MST, Minimum Spanning Tree). Nos últimos anos deu-se início a um primeiro teste baseado num dataset que contém uma formalização das variáveis materiais (suportes, canetas, etc.) das peças que compõem O caso Vargas, identificando uma série de famílias ou clusters em que as peças podem ser divididas, cada uma das quais possivelmente associada a uma fase da escrita da obra. O mapa resultante da análise automática pode ser confrontado com dados ligados aos conteúdos das peças e fornecer indicações úteis sobre as sincronias na produção de diferentes partes de uma mesma obra ou de obras diferentes. Ampliando o exame a obras mais extensas, a séries de obras ou, melhor ainda, ao Espólio na sua totalidade, será possível ter uma hipótese de visão estratigráfica do Espólio, de modo a identificar ligações entre partes diferentes da obra de Pessoa e a fornecer importantes indicações cronológicas e genéticas. Em conclusão, o que se pretende demonstrar não é, obviamente, a possibilidade de teorizar a existência de um filólogo automático ou virtual, mas a de integrar novas ferramentas no trabalho de um filólogo de carne e osso que tente enfrentar a difícil tarefa de reconstruir as fases da escrita da obra de Pessoa.

© Università degli Studi di Roma "La Sapienza" - Piazzale Aldo Moro 5, 00185 Roma